Antônio Bandeira (1922, Fortaleza, CE – 1967, Paris, França)
“Nunca pinto quadros. Tento fazer pintura”. Essas duas frases pronunciadas pelo nosso pintor cearense mostram seu intento de pintar pela “pintura em si” e não pelo assunto ou sua representação.
Inicialmente (1941-1945) participou da fundação do “Centro Cultural de Belas Artes” que em 1944 se transformou na “Sociedade Cearense de Belas Artes”, contando com a participação de Inimá de Paula, Aldemir Martins, João Maria Siqueira e Francisco Barbosa Leite – entre outros – participando das primeiras edições dos Salões de Artes Plásticas sendo premiado, em 1944, com a medalha de ouro.
Na adolescência e juventude demonstrava grande interesse pela poética desenvolvida por Van Gogh (1853-1890) iniciando sua produção artística “alla maniera” van goghiana.
Em 1946, como num passe de mágica – leia-se Chabloz, Raymond Warnier e Centro de Estudos Franceses-RJ – recebeu uma bolsa de estudo e estava a bordo de um cargueiro que o conduziria a Paris e em pouco tempo se transformaria no “Monsieur Banderrà de Saint-Germain-des-Prés”; bairro que desde o século XVII se encontrava ligado à vida intelectual da cidade. Com a oportunidade, estudou “École Superieure des Beaux Arts” e na “Académie de la Grande Chaumière dedicando-se principalmente ao desenho. Participou do “Salon d’Automne – 1947”, do “Salon d’Art Libre – 1948”, da exposição “La rose des Vents” e “Black and White” na “Galerie des Deux Îles” em 1948 e 1949, do “Salon de Mai – 1949” em preparação para sua primeira exposição individual na “Galerie du Siècle” em 1950.
Além da sua exposição individual, o aparecimento do “Salon de Réalités Nouvelles – 1952, 53, 56 e 58” que havia sido criado para a apresentação de obras não figurativas; ovvero, de abstracionismo geométrico e depois, de abstracionismo informal, proporcionou novo ambiente expositor.
Na mesma época conheceu o pintor e poeta Camille Bryen (1907-1977) e através dele o abstracionismo informal; herança de Gauguin, Van Gogh e Cézanne, filtradas pelos consagrados Matisse, Kirchner e Picasso, que seguiu após experimentar o “fovismo nas cores” e o “cubismo na forma”. Em pouco tempo, Bandeira romperia com o ensino tradicional, juntando-se a Wols (pseudônimo de Alfred Otto Wolfgang Schulze; 1913-1951) Camille Bryen (pintor, poeta e gravador ligado ao Tacxhismo; 1907-1977) dando origem ao grupo “Banbryols”, iniciais dos nomes dos três pintores. O grupo duraria de 1949 a 1951, quando Wols morreu.
Retornou ao Brasil (1951) e no mesmo ano expos MAM-SP onde confrontou o público com sua nova linguagem “abstrato-concreta” que apontava para o “abstracionismo informal” que viera a substituir o “expressionismo van goghiano” fortalezense. Em 1953, ganhou o concurso para o cartaz da “II Bienal Internacional de São Paulo” e no ano seguinte partiu para sua segunda temporada européia.
Dedicou-se ao “abstracionismo absoluto” – não aquele que pudesse ser confundido com o cubismo ou futurismo – mas sim àquele que é geralmente entendido como uma manifestação que não representa objetos próprios da nossa realidade concreta. Usava cores, linhas e superfícies para compor a realidade da obra, de uma maneira “não representacional”, despertando “emoções” e “sensações diferentes” em cada pessoa; daí, seu relacionamento com o “Expressionismo”. O movimento abraçado por Bandeira foi, sem dúvida, uma cisão cirúrgica com a arte renascentista das “Academias”, que tentavam prolongar indefinidamente sua trajetória greco-romana e, ao mesmo tempo, afugentar o “abstracionismo geométrico”.
Depois de cerca de cinco anos na Europa, o artista retorna ao Brasil para uma estadia prevista de seis meses que se estendeu por cinco anos! Continua exercendo atividade artística extraordinariamente intensa, viaja pelo território nacional; e, a partir de 1960 quando Alfredo e Giovanna Bonino abrem a galeria no RJ, novo incremento é dado à obra de Bandeira. Participa também de importantes exposições, em paralelo a mostras em Paris, Munique, Verona, Londres e Nova York.
Em 1961, edita um álbum de poemas e litogravuras de sua autoria, e, no mesmo ano, João Siqueira realiza um curta-metragem sobre a obra do pintor.
Em 1962, PM Bardi lhe presta uma homenagem dizendo… “(…) este charmant cearense , mais conhecido em Montparnasse do que em Copacabana, é o artista que representa fora do Brasil a nossa arte de cunho genuíno, possante, por suas raízes sem sabor indígena. Bandeira é inconfundível.”
Sua última aparição em território nacional foi em 1964. Voltou a Paris em 1964-65, onde permaneceu até sua morte, em 1967 – abatido em pleno voo por um acidente cirúrgico – aborrecido com a interpretação da imprensa que o julgava ingrato para com o país que lhe havia dado tantos prêmios e homenagens.